Ecstasy e Drogas Sintéticas

Trata-se de um conjunto de práticas tóxicas que se traduzem em actividades que visam possibilitar os meios para alterar os estados de consciência e de humor.
Estes meios passam pelas pastilhas de ecstasy, mas também pela conjugação de outras substâncias (policonsumos): cocktails de medicamentos com ou sem bebidas alcoólicas. Apenas uma parte dos consumidores não combina substâncias.
Por todo o mundo, e em Portugal, tem-se registado um crescimento alarmante da popularidade e consumo das denominadas drogas sintéticas como Ecstasy (MDMA), GHB, Ketamina ou LSD, intimamente ligadas a bares/discotecas, com um objectivo claramente recreativo e de diversão. Resultando a sua composição da investigação laboratorial (sintética), estas substâncias são encaradas como facilitadoras da comunicação, assumindo um papel determinante na interacção desenvolvida naqueles espaços e que se pretende prolongar para além da duração dos efeitos dos consumos.
Ainda que consumidas predominantemente em contextos recreativos, tendem a extravasar para o quotidiano como forma de ultrapassar experiências negativas (medo, sofrimento, dúvida) e desencadear emoções positivas (prazer, euforia, diversão). O carácter voluntário dos consumos, assente na busca de um estado mais elevado de bem-estar consigo e com os outros, parece ser reforçado pela ausência de síndromes de abstinência.
O facto de estarem associadas a cenários de lazer liga-se com um elemento essencial, a música que, através das acções psicotrópicas das substâncias ingeridas, pode ampliar ou reduzir os efeitos ao nível da expressão, motricidade, sentidos e afectividade. Como afirma Pedro Abrunhosa, no prefácio ao livro O Universo do Ecstasy, de Susana Henriques, e, de uma maneira geral, a nova música para pista, estão fortemente conectadas ao consumo desta conjugação entre som, batida, ritmo, frequência, repetição, resulta um encantamento tão bem explorado quanto sublinhado pelo consumo de ecstasy, que parece prolongar e aumentar tal efeito.

O Ecstasy, cientificamente denominado de MDMA (3,4-metilenodioximetanfetamina), é uma substância química pertencente à família das anfetaminas que tem propriedades estimulantes e alucinogénicas. Foi inicialmente sintetizado na Alemanha em 1912 como supressor do apetite, mas tendo sido demonstrado que as alterações do estado de consciência não eram facilmente controladas, passou a ser considerada uma droga poderosa e perigosa e o seu uso terapêutico proibido.
É comercializado sob a forma de comprimido ou cápsula, geralmente com um símbolo gravado, sendo conhecida entre outras por Adão e Eva ou Pastilha. A sua composição deveria conter MDMA, MDA ou MDEA, mas pode conter outras substâncias como anfetaminas, LSD, 2-CB, cafeína, efedrina, ketamina, estrictina, atropina, 4-MTA, DXM, sendo este corte que gera as variações de efeitos e reacções colaterais inesperadas.
A sua administração é feita geralmente por via oral, surgindo os seus efeitos no espaço de minutos a meia hora, permanecendo durante cinco horas e os efeitos residuais por vários dias. Os seus efeitos tóxicos incluem euforia, sensação de espiritualização e intimidade, subida da tensão arterial, da frequência cardíaca e de suores. Entre outros problemas graves associados, tem ainda o perigo potencial de poder provocar alterações de longa duração (a mais de 6 meses) no funcionamento das células nervosas ricas em serotonina.
Efeitos predominantes: como qualquer estimulante, funcionando em parte pela libertação ou bloqueio da recaptação de neurotransmissores (substâncias químicas que estimulam os neurónios vizinhos) como a dopamina das células nervosas; produzindo ainda efeitos noutros neurotransmissores como a serotonina.
Da combinação destas modificações geram-se alterações no metabolismo cerebral e no fluxo sanguíneo, associando-se a sensações de estimulação intensa e euforia. Os seus efeitos produzem-se no SNC, nos nervos periféricos e no sistema cardiovascular, provocando euforia, diminuição de fadiga e de necessidade de dormir, pode aumentar o desejo sexual, reduzir o apetite; se as doses mais baixas tendem a melhorar a performance motora, as doses mais elevadas geram um défice com fortes tremores e mesmo convulsões; provocam ainda náuseas, vómitos, pupilas dilatadas e aumento da temperatura, arritmias, depressão e outras perturbações neurológicas.
Mas porque estas drogas sintéticas também são alucinogénicas, estas substâncias provocam adicionalmente outros efeitos tais como: aumento da consciência dos estímulos sensoriais, sensação subjectiva de intensificação da actividade mental, alteração das imagens corporais, menor distinção entre si mesmo e o que o rodeia, apura os sentimentos de empatia, rubor facial, aumento da tensão arterial, da glicemia e da temperatura, e se em excesso colapso cardiovascular e convulsões.
As pesquisas apontam ainda para os graves problemas de saúde ou mesmo morte, perigosidade essa que aumenta em associação com o consumo de álcool. Uma das consequências mais graves regista-se a nível comportamental e cerebral, provocando danos a nível da serotonina, um neurotransmissor que desempenha um papel da regulação da emoção, memória, sono, dor e outros processos cognitivos.
Por outro lado, dado a sua maioria não possuir cor, sabor ou odor, estas drogas podem ser colocadas em bebidas por indivíduos que queiram intoxicar outros, constituindo um perigo e causa de violações, gravidez em idades precoces e transmissão de doenças infecciosas como HIV/SIDA.
O Ecstasy, em doses elevadas, pode afectar a capacidade de regulação de temperatura do organismo, levando a uma subida brusca da temperatura corporal (hipertermia), e podendo resultar em colapso sistémico hepático, renal e cardiovascular; alterações das funções cerebrais, afectando a actividade cognitiva e a memória, assim como sintomas depressivos vários dias depois de se usar.
O GHB é essencialmente um depressor do sistema nervoso central, usado pelos seus efeitos euforizantes, sedativos e anabolizantes, podendo a sua ingestão ocasionar paralisia e coma, tendo ficado conhecido como a droga associado a casos de envenenamento, overdose, violação e morte.
A Ketamina é um anestésico, usado principalmente em veterinária, podendo causar estados oníricos e alucinações; em doses elevadas pode causar delírio, amnésia, redução das funções motoras, hipertensão arterial, depressão e problemas respiratórios eventualmente mortais.
O Rohypnol é o nome comercial do flunitrazepan, quimicamente uma benzodiazepina que, em associação com o álcool, pode causar a morte ou paralisias; pode igualmente tornar uma vítima incapaz de se opor a um ataque sexual; assim como causar amnésia de fixação, isto é, dificuldade ou incapacidade de memorizar factos posteriores à ingestão da substância.
Estas substâncias não têm utilização clínica comprovada, em que os benefícios ultrapassem os seus perigos.

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